Criar abelhas em casa pode ser “tiro no pé” para conservação da espécie

As notícias sobre o declínio populacional das abelhas vem causando reações de quem gostaria de ajudar na conservação, passando a criar abelhas em casa, na maioria dos casos, de espécies sem ferrão. Marco Britto – Um Só Planeta

Na Austrália, houve um salto de 5 mil novos criadores em cinco anos, relata o jornal The Guardian. Um número que começa a preocupar pesquisadores e profissionais ligados à apicultura.

A criação de abelhas sem ferrão, entre outras, pode causar um choque entre espécies e prejudicar as abelhas locais. Apesar da boa vontade, apicultores amadores podem estar ajudando a desequilibrar as populações de abelhas que tanto estimam.

No Brasil o tema desperta atenção também, com artigos científicos alertando para o impacto de abelhas “estrangeiras” inseridas em novas regiões.

Ao mesmo tempo que espécies amazônicas são criadas e solicitadas em regiões do Centro-Oeste e do Sudeste, nessas mesmas localidades uma espécie como a uruçu-amarela (Melipona rufiventris) está na lista vermelha da fauna ameaçada de extinção, alerta a pesquisadora Betina Blocktein em análise sobre artigo publicado por ela e colegas brasileiros no Journal of Applied Ecology, da Sociedade Britânica de Ecologia.

Entre apicultores australianos a preocupação é precisamente a mesma. Tony Wilsmore, especializado em instalar colmeias urbanas nos subúrbios de Melbourne, afirma ao Guardian que, ao receber telefonemas de novos clientes, a primeira coisa que faz “é tentar convencê-los de que não devem criar abelhas”.

“Acho que as pessoas são compelidas a manter uma colmeia porque fundamentalmente querem ajudar as abelhas. E minha mensagem geralmente é que o primeiro passo para ajudar as abelhas é plantar flores”, afirma Fiona Chambers, CEO da Wheen Bee Foundation, uma instituição sem fins lucrativos para conservação das abelhas na Austrália.

A diminuição de territórios verdes nas cidades, e a pouca oferta de flores para fornecer a matéria-prima para as abelhas, causa uma competição entre as recém-chegadas, muitas vezes espécies de outro tipo de habitat, e as abelhas silvestres locais.

“Antes de as pessoas terem uma colmeia de abelhas, elas precisam pensar muito seriamente: Tenho flores suficientes, e não apenas na primavera, mas há flores suficientes ao longo do ano para sustentar as abelhas?”, coloca Chambers.

Pesquisadores brasileiros alertaram, em estudo publicado em 2021, que o comércio de abelhas sem ferrão tomou escala nacional e merece mais atenção em relação ao seu possível impacto.

“Tais encontros entre abelhas nativas e exóticas podem representar ainda maior risco pela transferência de novos patógenos e parasitas”, coloca Betina, que defende a comercialização de abelhas apenas nas regiões de origem, para evitar essa sobreposição.

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